Carta de Marcelo Krauze para professora Rakell Aguiar

Goiânia, 12 de novembro de 2008.

 

 

Estimada Professora Rakell com dois “L” no final, ontem por volta das 18h00min dei inicio a uma aventura que intitulei como “viagem ao bosque perdido”. Peguei meu carro e como não tenho GPS no mesmo, furtei um mapinha do site Google, para melhorar a condução de minha longa jornada de encontro ao tão excêntrico universo de conquistas intelectuais. Nunca tinha ido a um lugar tão longe sem saber bulhufas de nada a respeito de como chegar lá, mas fui seguindo devidamente os meus instintos de bom motorista que sou modéstia parte e de estudante de jornalismo que estar incansavelmente aprendendo a abordar e fazer perguntas, quando tiver dúvidas.

 

Para dramatizar ainda mais, começa um temporal daqueles, típico de filme de terror brasileiro, estrelado por Zé do caixão, lembra? Muita chuva, muito vento e pouca visão, ou melhor, visão nenhuma, fazia parte do cenário sombrio do tão sonhado encontro de concluir um trabalho de faculdade. Meu mapa já não ajudava tanto, devido à forte chuva que caia, o jeito era, na primeira brecha que tivesse abaixar os vidros e perguntar aos motoqueiros, “onde eu estou?”, alguns até entendiam o que eu falava, agora eu, só levava água na cara, parecia cinema mudo, só via o abrir da boca deles, mas som, só mesmo o da chuva.

 

Resolvi parar em um posto de gasolina e relaxar a musculatura um pouco, pois eu estava bastante rígido, parecia que tinham passado cimento em meu corpo inteiro, tamanha era a tensão. Entrei de volta ao carro e buzinei, foi quando apareceu uma frentista perguntando assim: “vamos completar senhor?” respondi tão triste “não querida, somente vinte reais, a propósito, onde estou?”, antes que ela respondesse vi um avião no céu, tão baixo, mas tão baixo que pensei que fosse cair em cima de mim, foi quando me atentei que estava no aeroporto, portanto no meu mapa depois do aeroporto, seguia reto, entrava à direita, esquerda e assim por diante, vi que estava perto, paguei a gasolina e segui viagem de volta ao temporal.

 

Logo na frente parei novamente e perguntei a uma senhora de preto com uma voz esquisita aderida a um longo guarda-chuva preto, onde ficava a Universidade Federal de Goiás (UFG) é assim que você gosta que se escreva né professora? to tentando aprender ta, mas voltando ao assunto da senhora do guarda-chuva, muito gentil, me ensinou certinho o que eu queria saber, fiquei com tanto medo dela que quase fiz xixi nas calças, é porque tava muito escuro e chovendo, professora, só por isso, tanto medo, sou macho nordestino, ta. Como se não bastasse faltava apenas mais uma informação e já eram 18h49m, e precisava chegar, foi quando apareceu um rapaz que parecia um emo-nejo, uma mistura de emo com sertanejo, vestindo uma bermuda de cetim preta uma bota até na canela e uma camisa xadrez, o cabelo igual o do cantor do Nxzero, aquela banda de emo, só que a sua voz se assemelhava a de um vocalista de banda heavy metal, aff, continuava meu pavor, mas ele me ensinou certinho, também, parecia uma mapa-humano. Foi à informação mais catedrática que tive.

 

Um quilometro só, avistei uma grande pista de automobilismo com tantas curvas e direções, mas o que mais me confortou foi um nome grande citando UFG, sabia que ali era o meu destino, só não imaginava que começava naquele momento a melhor parte da aventura que intitulei no início desta carta.

 

Comecei a andar sem mais nem menos, pois não sabia por qual direção daquelas seguir, mas logo achei a entrada da universidade, menos mal. Passei por uma guarita, mas como não vi ninguém, fui reto, e parei onde imaginava que teria uma informação. Saí do carro e adentrei-me a um dos inúmeros campus daquele lugar, quando avistei um guarda e pensei graças a Deus agora vou chegar. Fiz-lhe uma pergunta sem muitas chances “onde fica a FACOMB?”. – O quê? Respondeu assustado o frágil guarda. Desisti rapidamente e logo fui à busca de informações mais concisas, foi quando desceu de uma rampa toda rabiscada, descascada, que parecia obra abandonada por político aproveitador, uma professora, com uma pilha de livros, que mal dava pra ver seu rosto, apenas sua voz. Inacreditavelmente não adiantou nada, sua dicção se perdia meio a vários papeis, fui de volta ao carro passando por uma garota estranha que falava em japonês sei, lá, sentada na posição de um Buda, com um celular no ouvido, nem fui bobo de arriscar uma informação. Entrei no carro novamente e fui brincando dentro daquele parque sem ter nenhuma informação, vi um carro branco e duas pessoas dentro fiz a mesma pergunta que havia feito ao guarda, e o cara respondeu com uma voz fina com nuances árabes e nordestina, um sotaque filha da puta de horrível, “aqui é só biologia, infelizmente, nem sei do que você ta falando”. Mas uma vez fui vencido, foi quando apareceu outra pessoa que nem sei de onde, e nem sei se era humano, apareceu do nada, falando – Você estar procurando a FACOMB? O caminho é por ali, certo. Segui plenamente a sua indicação, mas fiquei com um pulgueiro atrás da orelha, Professora foi o pior momento, o mais macabro da aventura, um caminho que só tinha mato, e animais, um lugar sombrio, horrível, quase fui a óbito. Vi uma luz e pensei, acho que é aqui! Por várias vezes me beliscava pra saber se estava vivo, ou sonhando, tamanha era a minha angústia, graças à senhora, né, professora. Estacionei embaixo de uma árvore e vários galhos ficaram por cima do meu pobre carro, saí, quase chorando e fui andando em direção a sei lá o que, tentando achar vidas naquele lugar. Vi dois homens mexendo com banheiros químicos e pensei comigo acho que esses ai já morreram, é apenas uma miragem, disfarcei e continuei seguindo, logo em seguida vi outro guarda (ai que traumático) arrisquei a mesma pergunta, e ele falou “é ai em frente, mas foi fechado as 18h00min”, como assim? Perguntei ao guarda, e ele respondeu “é a 5ª pessoa que me pergunta isso hoje aqui, eu creio que está acontecendo no campus de direito na praça universitária”, pensei esse guarda deve ser maluco, vou dar moral pra ele não. Segui num corredor com uma trilha sonora assustadora, acho que estava no meio de uma cena onde iria aparecer o Freddie Grueger, um cenário cheio de morcegos, e com aparelhos antigos, nossa que medo!!! Vi um rapaz e perguntei o que estar acontecendo aqui? O cara respondeu cantando “prova de física”, não sabia se sorria dos óculos dele, ou se corria sem parar de tanto medo. Credo professora como à senhora pôde ter estudado ali quatro anos, a senhora não surtou nenhuma vez? Credo, aff!!. Sem nenhum êxito resolvi ir embora, pois já se passavam das 20h00minh, e começava naquele momento outra aventura de volta pra casa.

 

Por que a senhora não avisou a gente que não seria ali o local do evento, poxa fiquei super chateado, e agora qual é a sua solução para o meu trabalho e para o dos meus colegas que devem ter passado a mesma coisa que eu?

 

Aguardo sua resposta, atenciosamente, Marcello Krauze.